Os Estados Unidos vivem neste fim de semana uma escalada de tensão, com dezenas de milhares de pessoas nas ruas em protesto pelo assassinato de um homem negro por um policial em Minneapolis.
Os atos, iniciados em Minneapolis na terça-feira, se espalharam pelo país, de Los Angeles a Nova York, e se tornaram um movimento amplo de contestação ao que os manifestantes denunciam ser o uso desproporcional de violência pela polícia contra a comunidade afro-americana.
Em várias manifestações, houve violentos confrontos com a polícia. Só neste sábado (30/05), segundo a agência de notícias AP, foram mais de 1.400 detidos em 17 cidades americanas. Em Minneapolis, no estado de Minnesota (norte), agentes com equipamento antimotim investiram contra os manifestantes, que desafiaram o toque de recolher obrigatório.
Tropa de choque foi, no sábado, novamente usada contra manifestantes em Minneapolis
Tropa de choque foi, no sábado, novamente usada contra manifestantes em Minneapolis
Confrontos foram registrados também em Nova York, Filadélfia, Los Angeles e Atlanta, levando as autoridades destas duas últimas cidades, bem como as de Miami e Chicago, a anunciar a imposição de um toque de recolher obrigatório.
Na origem dos protestos está a morte de George Floyd, de 46 anos, pela polícia, depois de ter sido detido sob suspeita de ter tentado usar uma nota falsa de 20 dólares num supermercado.
A cena foi flagrada por passantes e divulgada online. Nas imagens, vê-se um dos quatro agentes que participaram na detenção com o joelho sobre o pescoço de Floyd, durante mais de oito minutos. Os quatro foram já exonerados da polícia, e o agente Derek Chauvin foi acusado de homicídio culposo.
Trump, que se referiu várias vezes ao caso como a "morte trágica" de Floyd, atribuiu os confrontos a "grupos da extrema esquerda radical" e a grupos "antifa" (antifascistas).
Vidas Negras Importam: cartaz do principal movimento de articulação dos protestos
"Vidas Negras Importam": cartaz do principal movimento de articulação dos protestos em Nova York
"Não devemos deixar que um pequeno grupo de criminosos e vândalos destrua as nossas cidades", afirmou.
Trump tem histórico de inflamar tensões raciais nos EUA. Em 2017, ele culpou “ambos os lados" pela violência entre supremacistas brancos e contramanifestantes de esquerda em Charlottesville, na Virgínia, e já chamou imigrantes que cruzam a fronteira EUA-México de estupradores. Desde o início da atual crise, as declarações do presidente vêm servindo para inflamar os protestos. Neste fim de semana, ele ameaçou ainda usar o Exército para controlar as manifestações.
Depois de uma sexta-feira tumultuada, multidões se reuniram em dezenas de cidades, em sua maioria em manifestações pacíficas – ainda que mais tarde muitos protestos tenham terminado em violência.
Em Washington, a Guarda Nacional foi destacada para os arredores da Casa Branca, onde a multidão cantou slogans zombando dos agentes da lei. Segurando escudos, a tropa ficou de pé em linha a poucos metros da multidão, impedindo-a de avançar. Trump, que passou boa parte do sábado na Flórida para o lançamento do foguete SpaceX, pousou no gramado do helicóptero presidencial ao anoitecer e entrou sem falar com jornalistas.
Em Nova York, mais de 200 pessoas foram detidas, na sequência de confrontos com a polícia. Vários agentes ficaram feridos, enquanto em Atlanta e Miami, vários veículos policiais foram incendiados.
"Os erros que estão acontecendo não são erros. São crimes terroristas violentos. As pessoas precisam parar de matar negros", disse a manifestante Meryl Makielski, em Nova York.
Pelo menos cinco agentes ficaram feridos em Los Angeles, na sequência de confrontos, saques e incêndios, sobretudo em lojas de luxo de Beverly Hills. Em todo o país, pelo menos dois manifestantes morreram nos incidentes e dezenas ficaram feridos.
Polícia de Los Angeles também entrou em confronto com manifestantes
Polícia de Los Angeles também entrou em confronto com manifestantes
A agitação vem em um momento em que a maioria dos americanos passou meses confinada devido à epidemia de coronavírus. Os acontecimentos dos últimos dias, vistos ao vivo na televisão nacional, têm mostrado multidões nas ruas, em forte contraste com as ruas vazias dos últimos meses.
Os protestos desta semana lembram os tumultos de quase 30 anos atrás em Los Angeles, ocorridos após a absolvição dos policiais brancos que espancaram Rodney King após uma perseguição de carro em alta velocidade. Os protestos pelo assassinato de Floyd já ocorrem em muito mais cidades, mas os prejuízos em Minneapolis ainda não se aproximam do que ocorreu em Los Angeles durante cinco dias de tumultos em 1992. Na ocasião, mais de 60 pessoas morreram, mais de 2 mil ficaram feridas e milhares foram presas, com danos patrimoniais que superaram US$ 1 bilhão.
Nas ruas, muitos manifestantes falaram com frustração sobre o ocorrido, argumentando que a morte de Floyd faz parte de uma triste rotina. Casos como o dele se repetem nos EUA. O de maior repercussão nos últimos anos foi a morte de Eric Garner, estrangulado em 2014 por um policial em Nova York. O crime deu origem ao movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), ainda hoje importante peça de articulação dos negros nos EUA.
Os protestos ocorrem no meio da pandemia do coronavírus, que já jogou milhões de trabalhadores no desemprego, matou mais de 100 mil pessoas nos Estados Unidos e vem atingindo desproporcionalmente a comunidade negra e mais pobre americana.
RPR/ap/rtr/ots
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Fonte: DW
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